Entrevista: Paulo Marques (Travassô)

«Nos escalões de formação de base, não se tem trabalhado tão bem quanto se devia»


Imagem TRAVASSÔ ESCOLAS

O Fut5al Aveiro esteve à conversa com o técnico Paulo Marques. Dando seguimento à série de entrevistas que vamos levar a cabo, esta semana foi a vez do treinador das Escolas da AD Travassô, que têm vindo a realizar um excelente campeonato e estão envolvidos na discussão do título distrital do escalão. Nesta pequena entrevista, Paulo Marques fala de alguns temas quentes, como a necessidade de clubes e treinadores apostarem bem no trabalho dos escalões de base (Escolas, Infantis e Iniciados), e tecendo ainda alguns comentários sobre a arbitragem ou a organização das provas por parte da AFA.


Fut5al Aveiro - Sendo o escalão de Escolas o primeiro patamar da formação de base de um futsalista, achas que se está a trabalhar bem no nosso distrito?

Paulo Marques - Bom, a minha opinião é que não se tem trabalhado tão bem quanto se podia. Continua a existir pouca formação para treinadores. Tira-se o Curso e depois os treinadores ficam um pouco entregues a si próprios. Penso que se poderia apostar mais em acções de formação de vários tipos, com incidência para os patamares de formação básica, como treino de GR, pivot, etc... Aquilo que se vai fazendo é o que se aprendeu nos cursos e depois também depende da experiência que cada um tem. Para juntar a isto tudo normalmente os clubes têm como politica colocar os treinadores menos experientes nos escalões mais baixos, o que na minha óptica está errado. Devia ser precisamente o contrário, para se começar a trabalhar bem desde a base.

F5AV - Um treinador de Escolinhas deve sempre preferir a formação dos seus atletas aos resultados. Deve optar sempre por treinos de carácter mais recreativo e que, de forma agradável, ensinem os fundamentos básicos do futsal às crianças. Mas ainda há equipas que não optam por esse caminho, não é verdade?

PM - Sim, esse é outro dos problemas que afecta a Formação. A necessidade e a ânsia de títulos leva ao caminho do "vale tudo", valendo mesmo tudo para atingir esses objectivos. Não acho que os clubes devam abdicar de tentar atingir bons resultados, mas nestas idades o mais importante será mesmo dotar os miúdos de boas bases para o futuro. Eu costumo dizer aos meus atletas que não precisam ter pressa de ser campeões, pois se continuarem a trabalhar como até aqui, seguramente que num futuro próximo vão ganhar, se calhar até mais do que uma vez. Não é necessário queimar etapas!
Por exemplo aquilo a que se tem assistido neste campeonato de Escolas é precisamente isto... São poucas as equipas que tentam jogar bem. Se calhar só duas ou três é que têm princípios de jogo já bem definidos; as outras limitam-se a despejar bolas para frente como se de um jogo de futebol de 11 se tratasse. Ora isto é completamente errado. Primeiro as bases, depois os resultados, até porque um é consequência do outro!

F5AV - Como olhas para o CD Escolas desta época? Ao longo do ano, que clubes destacas como tendo feito um bom trabalho?

PM - O CD Escolas este ano não está muito forte! Um pouco por aquilo que disse atrás, mas também pela própria organização do Campeonato. Não faz sentido este campeonato ser dividido em duas zonas. Isto tornou as duas zonas muito desequilibradas. Falando da Zona Sul, o que aconteceu é que tivemos no Campeonato todo 2/3 jogos competitivos e nos outros 10/11 foram autênticos passeios com goleadas. Ora esta situação não é boa para quem já está num patamar, em termos de evolução, superior, nem para quem está a começar. Se tivéssemos um campeonato único a duas voltas isso garantia pelo menos 10 jogos equilibrados para as equipas que estão melhor, mas também para as que estão a dar os primeiros passos.
No que diz respeito às equipas, tenho de destacar a AD Travassô e o Fundo de Vila que me parecem ser as melhores equipas e depois tem a equipa do Burgães que apresenta excelentes princípios de futsal, não abdicando deles em função dos resultados. O CAPA tem bons executantes, assim como o Barrô. Da Série dos Últimos, destacaria o Dínamo Sanjoanense e o CRECUS.

F5AV - E os meninos da AD Travassô, portaram-se bem esta época? Estão a realizar um excelente campeonato.

PM - Sim, é verdade! As coisas estão a correr bem. Este foi um projecto iniciado na época passada e foi-me pedido pela Direcção que preparasse uma equipa para o futuro. É o que temos estado a tentar fazer. O ano anterior foi o de lançamento das bases, este ano foi para reafirmar e solidificar essas bases. Não contávamos estar a disputar o titulo, mas já que lá estamos, se pudermos ganhar, óptimo. Mas esse não é o objectivo principal! Como referi atrás, temos tempo de ganhar no futuro e estou certo que isso vai acontecer!

F5AV - Têm havido relatos de ambientes demasiado fervorosos em jogos do campeonato de Escolas, com muitos pais e apoiantes a criar alguns desacatos perfeitamente escusados nas bancadas. Tens conhecimento? O que tens a comentar sobre isso?

PM - Essa de facto tem sido uma realidade. Mas isso acontece por vários factores. Desde logo as rivalidades que existem entre os vários clubes, depois o incutir a vitória como único resultado possível, o desconhecimento das leis de jogo por parte dos apoiantes e por último o péssimo nível das arbitragens, o que para mim não é admissível porque o nível de jogo não é muito alto.
Portanto, se erram a este nível, é porque não conhecem as leis de jogo ou então são mesmo muito fracos! Aliado a isto tudo, o aproximar do fim do campeonato leva a que exista muita agitação que por vezes conduz a situações menos dignas. Eu próprio, este fim-de-semana, enquanto assistia ao jogo entre o CAPA e o Fundo de Vila, excedi-me e desde já peço aqui desculpa por esse facto, mas nem sempre é fácil assistir a determinadas coisas e ficar calado. A arbitragem em Aveiro precisa de uma mudança radical, assim como a classe dirigente. Porque o problema não são só os árbitros... o problema é bem mais profundo e exige reflexão de todos.

F5AV - Falando em arbitragem, o campeonato de Escolas só tem um árbitro e um delegado designado para arbitrar, correcto? Como muitos árbitros defendem, por que não ter só um árbitro e permitir que ele possa deslocar-se mesmo por dentro da quadra?

PM - Sim, de facto é assim. Eu defendo que deve ser só um arbitro, até para salvaguardar aquele delegado que vai apitar. Porque, se as coisas começam a correr mal, temos o caldo logo entornado. Se a AFA quer que as equipas indiquem um árbitro para os jogos de Escolas e Infantis deve dizê-lo atempadamente, para que os clubes indiquem essa pessoa Depois, a AFA deveria dar formação a essas mesmas pessoas. Agora mandá-las lá para dentro assim de qualquer maneira é que não! Isto é só uma solução para melhorar o actual cenário. Mas mantenho a minha opinião: penso que nos jogos de Escolas e Infantis, um árbitro é suficiente desde que possa andar dentro de campo.

F5AV - O Fut5al Aveiro agradece a disponibilidade e deseja as maiores felicidades à AD Travassô e o maior sucesso para o teu percurso como treinador.

PM - Muito obrigado. Eu é que agradeço a oportunidade e aproveito para dar os parabéns ao Fut5al Aveiro pelo trabalho desenvolvido em prol do futsal distrital e também por promoverem frequentemente o futsal da formação. Parabéns!

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DADOS PESSOAIS

Nome: Paulo Marques
Data de Nascimento: 25/05/1980
Profissão: Empresário
Função / Clube (Escalão): Treinador / AD Travassô (Escolas)
Clubes Representados:
CRECUS, Beira-Mar, AD Travassô
Palmarés:
2003/04 Vice-Campeão Distrital Infantis (CRECUS)
2004/05 Vice-Campeão Distrital Iniciados (CRECUS)
2005/06 Campeão Distrital Juvenis (CRECUS)